Estava na época de colheita do caqui e há dias o sol não dava as caras.
A estrada deserta deixava a impressão de sempre estarmos no mesmo lugar, mas, era só impressão.
Quando já não aguentávamos mais as muriçocas que rodeavam nossas cabeças, eis que surge uma barraca. Aos poucos nos aproximamos e pude reparar que era uma venda de caqui. O barulho do trator acordou o homem que, supostamente, era o dono da venda.
- Pois não, sinhô?! – Disse o homem, empunhando um facão.
- Se vai querê caqui? – Prosseguiu.
- Se vai querê caqui? – Prosseguiu.
Sorriso, ainda com medo, preferiu permanecer no trator. Desci, me aproximei do homem e lhe perguntei onde estamos, pois há dias andávamos sem rumo naquela estrada deserta. Logo adquiri a confiança do homem que se apresentou como Miuton, mas, preferia ser chamado de Miutinho.
Pois bem, Miutinho contou que havia herdado a barraca de caquis de seu falecido pai. Seu pai ficou famoso na região por vender terrenos no paraíso, podendo ser pago em suaves parcelas, pelo resto da vida. Com o dinheiro que juntou comprou a barraca de caquis, que na época pertencia a um baiano cantor, conhecido como Seu Seixas.
Há 35 anos Miutinho fazia o que seu pai lhe ensinou, vendia caquis aos moradores da região. Disse que logo chegariam seus clientes. Dito e feito. Como num piscar de olhos, a venda de Miutinho estava repleta de clientes, que logo compraram quase todos os caquis, restando apenas 3.
Perguntei a Miutinho qual era o segredo para conseguir tanto sucesso na venda de caquis. Ele me respondeu apontando para a faixa na parte superior da barraca:
“Só caqui gostoso.” – Era o que estava escrito na faixa.
Perguntei a ele onde morava e a que horas iria embora.
- Cabôu caqui a gente vai! – Respondeu.
Não demorou muito e uma velha senhora apareceu para comprar os últimos caquis da venda de Miutinho. Estranhamente a velha me olhou fixamente nos olhos.
- Eles precisa docê! – Disse a velha, se dirigindo a mim.
Sem entender nada, olhei para Miutinho procurando alguma explicação.
- Eles quem dona Zeza, fumô capim molhado, foi? – Disse Miutinho, zombando da velha senhora.
A velha parecia querer me dizer algo. Me olhava como se estivesse diante de um agente das organizações Tabajarada, a salvação de seus problemas.
- Bóra mais eu! – Disse dona Zeza, ainda olhando em meus olhos.
- Se ta com o pote de feijão? – Questionou-me dona Zeza.
- Se ta com o pote de feijão? – Questionou-me dona Zeza.
Ainda sem entender como aquela velha sabia do pote de feijões, escutei o conselho de Miutinho e resolvi acompanhar dona Zeza até sua moradia. Fomos de trator.
Mãe Zeza, como pediu para ser chamada, disse que morava não muito longe dali e que nos serviria algo para comer.
Assim que chegamos descobri que tudo é possível nessa vida. A casa de Mãe Zeza ficava no alto de uma árvore.
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